Dondice banyulensis, 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal
Dondice banyulensis [Portmann & Sandmeier, 1960]
Descrição Geral [1]
Este belo nudibrânquio pode ser facilmente identificado graças a duas características inconfundíveis: a cor, laranja brilhante translúcido, e o tamanho, que atinge um máximo de 60 a 70mm em animais adultos.
Bastante característicos neste aeolídeo, são também os tentáculos orais, de cor laranja com pontas brancas translúcidas e com o dobro do comprimento dos tentáculos dorsais [rhinophores]. Os tentáculos dorsais possuem anéis transversais também de cor laranja. O Dondice banyulensis tem duas linhas brancas, uma na parte superior do corpo, que vai desde os tentáculos orais até à cauda e outra que corre ao longo da fronteira do pé cujos cantos finais da parte anterior lembram tentáculos dobrados.
No dorso encontram-se cinco grupos de apêndices laranja brilhante com pontas vermelhas chamados cerata. Nestes nudibrânquios, o intestino médio extende-se para o interior destes apêndices onde são armazenadas células urticantes [cnidócitos] provenientes dos hidróides dos quais se julga que estes se alimentam.
De acordo com diversas fontes bibliográficas, os cerata podem ser erguidos quando o animal é perturbado, dando-lhe o perigoso aspecto de uma anémona urticante desencorajando o ataque de um possível predador. Se ainda assim for atacado, o agressor irá consumir os cnidócitos armazenados nos cerata. Estes são descartáveis e podem ser facilmente substituídos pelo nudibrânquio, enquanto que o agressor irá sofrer com as células urticantes armazenadas [ainda activas], descobrindo amargamente que esta não é uma presa passível de ser consumida.
Existe uma forte discussão acerca dos hábitos alimentares deste animal. Alguns autores sugerem que este nudibrânquio alimenta-se de algas e anelídeos, enquanto outros afirmam que ele ataca hidróides Eudendrium sp. Este último tipo de alimentação parece provável, pois existem observações onde o Dondice banyulensis circunda o tronco de uma colónia de hidróides com o seu pé e aparentemente parece alimentar-se. Outros autores sugerem ainda que este nudibrânqueo, quando sujeito a privação de outros alimentos, alimenta-se de outros opistobrânquios como o Flabellina affinis ou Cratena peregrina [comprovado em ambiente controlado].
O Dondice banyulensis vive em fundos rochosos a profundidades que variam de 2 a 35 metros e ocasionalmente em águas rasas. O seu movimento é relativamente rápido e um mergulhador, se se aproximar de forma incauta, poderá perder a oportunidade de tirar uma boa foto pois o animal poderá adoptar a sua posição defensiva.
Esta não é uma espécie rara, mas também não é frequente. É considerada endémica do Mar Mediterrâneo mas também é comum na costa atlântica da Península Ibérica.
Estes nudibrânquios podem ser facilmente confundidos com os Coryphella lineata, que possuem coloração semelhante, mas são muito menores (até 30mm no máximo), os tentáculos orais têm o mesmo comprimento dos tentáculos dorsais, e estes órgãos bem como a parte final dos cerata terminam em pontas brancas, em vez de pontas vermelhas.
O Dondice banyulensis era anteriormente conhecido como Godiva banyulensis e como alguns autores ainda usam este nome, ainda hoje é mantido como sinónimo. De acordo com o índice etimológico Bemon [Biographical Etymology of Marine Organism Names], a origem do nome do género Dondice, assim como muitos dos nomes taxonómicos criados pelo zoólogo de Berlim Ernst Marcus, (1893-1968) e sua esposa Eveline du Bois (1901-1990), são difíceis de identificar. Parece que Dondice era o nome de uma empresa em São Paulo [Brasil], onde eles viveram no passado.
Reprodução e Desenvolvimento [2]
Dois nudibrânquios Dondice banyulensis a acasalar.
Foto tirada por mim em 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal.
Os nudibrânquios são hermafroditas simultâneos, o que significa que possuem tanto órgãos sexuais masculinos como femininos ao mesmo tempo. O órgão sexual está localizado no lado direito do animal assim, quando acasalam estão sempre na posição «cabeça-com-cauda». Esta estratégia aumenta a probabilidade de encontrar um parceiro, uma vez que cada indivíduo adulto da mesma espécie é um parceiro em potencial [a auto-fertilização é muito rara].
Após o acasalamento, os nudibrânquios colocam as suas posturas sobre ou perto do organismo do qual se alimentam. Estas massas de ovos variam em tamanho, forma e cor dependendo da espécie e o processo pode demorar muitas horas. A postura de algumas lesmas do mar tem a aparência de uma bobina de ovos, enquanto a de outras tem a forma de uma fita espessa tecida em espiral. Os ovos são geralmente brancos, mas também podem ser vermelhos, rosa, laranja ou outra cor, dependendo da espécie.
O desenvolvimento do ovo pode demorar entre 5 e 50 dias, e é fortemente influenciado pela temperatura. Águas mais quentes, geralmente resultam num curto período embrionário. Normalmente, os ovos desenvolvem-se primeiro numa forma larval denominada véliger, que deriva nas correntes oceânicas como o plâncton.
Condições ambientais específicas levam a que as larvas que se estabeleçam e se metamorfoseiem para a forma adulta. Esta dispersão larval é importante para uma dispersão bem sucedida para novas áreas, pois os nudibrânquios adultos movem-se muito lentamente e não podem viajar longas distâncias.
[1] Traduzido e adaptado de PONTES, Miquel e DACOSTA, Josep Mª, «Mediterranean Nudibranchs, Dondice banyulensis», in M@re Nostrum (onlne), disponível em http://marenostrum.org/vidamarina/animalia/invertebrados/moluscos/gasteropodos/opistobranquios/ gbanyulensis/dondice.pdf, consultado em 22.11.2010.
[2] Traduzido e adaptado de BEECK, Dray van e BEECK-SWANEPOEL, Karin van, «Nudibranchs», in Aqualife Images (online), disponível em http://www.aqualifeimages.com/Default.aspx?ShowImage=1&QueryIs=2%20results%20for%20Dondice-banyulensis&sqlstr=SELECT%20*%20FROM%20IMAGES%20WHERE%20INACTIEF%20=%200%20AND%20Latijn%20=%20539%20ORDER%20BY%20NAAM, consultado em 22.11.2010.