segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A anchova que afinal não é anchova…


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Pomatomus saltatrix, com cerca de um metro, na Praia das Escaleiras, Vila Nova, Terceira, Açores, em 13.08.2011.

Pomatomus saltatrix [Lineu, 1766]

Nome comum: Anchova, Enchova
Nome Inglês: Bluefish

Introdução

Os Pomatomus saltatrix são usualmente chamados de anchovas ou enchovas, mas este nome é comum a um outro peixe, o Engraulis encrasicolus, que forma grandes cardumes destas pequenas presas que constituem, tal como a sardinha, mais comum nas nossas águas, a base da cadeia alimentar de grandes predadores tais como os Pomatomus. Reparem na confusão que se pode gerar quando se refere uma anchova pensando num Pomatomus saltatrix e o interlocutor interpreta como sendo um Engraulis encrasicolus.


Foto de uma anchova Engraulis encrasicolus [1].

Descrição Geral [2]

Têm 8 ou 9 espinhos dorsais, 23 a 28 raios dorsais, dois ou três espinhos anais e 23 a 27 raios anais. Duas barbatanas dorsais, sendo a primeira pequena e baixa, com 7 ou 8 espinhos ligados por uma membrana. Dentes afiados e proeminentes, comprimidos numa única fileira. O dorso é azulado ou esverdeado e os lados e ventre são prateados.

Ocorrem tanto na costa como em águas oceânicas e preferem as águas límpidas e mar turbulento das praias com rebentação ou junto a promontórios rochosos, apesar de também ser comum encontrar adultos em estuários e portos de águas mais poluídas. Migram para águas mais quentes no inverno e mais frescas no verão. Encontra-se em todos os Oceanos excepto no Pacífico.

Os jovens podem ser encontrados em cardumes, em águas costeiras baixas, perseguindo e atacando pequenos peixes, enquanto que os adultos andam em grupos dispersos, sozinhos ou associados a tubarões ou outros grandes predadores como os Marlins, Espadartes e outros, atacando cardumes de presas, crustáceos e cefalópodes em muito maior escala que aquela que seria necessária para os alimentar.

As anchovas são troféu de pesca desportiva comuns, mas é necessário cuidado ao manusear este peixe voraz e agressivo pois pode morder ferozmente.

 

[1] Fotografia MNHN 2004-0584, do GICIM Database of the Muséum National d'Histoire Naturelle, in «Pictures available for Engraulis encrasicolus» (online), citado em fishbase.org, disponível em http://www.fishbase.org/Photos/ThumbnailsSummary.php?ID=66, consultado em 12.09.2011.

[2] Texto da Descrição geral traduzido e adaptado de «Pomatomus saltatrix (Linnaeus, 1766)» (online), em fishbase.org, disponível em http://www.fishbase.org/Summary/SpeciesSummary.php?id=364, consultado em 15.09.2011.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Morfologia das barbatanas [peixes ósseos]

 

Esquema das barbatanas

Legenda

[a] Primeira barbatana dorsal espinhosa [localizada no dorso]
[b] Segunda barbatana dorsal mole
[c] Barbatana caudal [fim da região posterior do corpo]
[d] Barbatana anal  [localizada após a abertura do ânus]
[e] Barbatana anal  [porção espinhosa]
[f] Barbatana anal [porção mole]
[g] Barbatana pélvica ou ventral [localizada antes da abertura do ânus]
[h] Barbatana peitoral [localizada junto das aberturas branquiais]

Descrição Geral [1]

As barbatanas, para além de serem órgãos externos que permitem a locomoção e equilíbrio dos peixes constituem também uma das formas de identificação e diferenciação das diferentes espécies.

Existem dois conjuntos agrupados pela sua paridade:

  • as dorsais [a] [b], caudais [c] e anais [d], de número ímpar;
  • as pélvicas [g] e peitorais [h], de número par.

As barbatanas dorsais e anais são extensões da camada profunda da pele [derme] que são suportadas por uma armação que as sustém da mesma forma que as varetas de um guarda-chuva.

Estas armações chamadas lepidotríquias são escamas modificadas e nos peixes ósseos [os que aqui são tratados], são compostas por queratina. Cada segmento das lepidotríquias é chamado de espinho [e] quando é rígido e raio [f] quando é mole.

As peitorais e ventrais são ósseas e têm origem nos membros dos mamíferos.

[1] Fonte «Barbatana», in Wikipédia (online), disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbatana, consultado em 01.01.2011.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Coris julis, a judia mais complicada do que parece

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Coris julis fotografada na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Coris julis [Linnaeus, 1758]

Nome comum: Judia, peixe-rei.

Descrição Geral [1]

Corpo esguio alongado, ligeiramente achatado lateralmente e cabeça pequena, mas maior do que a altura do corpo. O focinho é pontiagudo, e a largura preorbital [entre os olhos] é inferior à pós-orbital [dos olhos ao opérculo]. A boca é pequena e tem duas fileiras de dentes afiados [primeira com 9 a 14 e a segunda com 10 a 15], sendo os da frente maiores, mais proeminentes e curvos.
Ausência de escamas na cabeça e na base das barbatanas dorsal e anal. Tem 73 a 80 escamas pequenas ao longo da linha lateral e quatro ou cinco fileiras de escamas acima desta. O focinho tem 4 a 6 poros cefálicos [pequenas aberturas sensoriais ou secretórias na cabeça [2]]. Têm 25 a 26 vértebras. Possuem oito a dez espinhos e onze a doze raios [lepidotríquias] na barbatana dorsal e três espinhos mais onze a doze raios na barbatana anal. Os arcos branquiais [arcos ósseos ou cartilaginosos que dão suporte às brânquias[2]] são finos e em número de 14 a 17.

Esta espécie tem dimorfismo sexual [caracterizado pelos três primeiros raios dorsais nos machos secundários do mediterrâneo serem mais alongados] e são hermafroditas [mudam de sexo] sequenciais [inversão sexual] protogínicos [as fêmeas transformam-se em machos] diândricos [têm machos primários]. Têm também dicromatismo sexual, ou seja, machos e fêmeas possuem coloração diferente, mas no caso desta espécie, também são visíveis diferenças cromáticas entre machos primários e secundários.
Assim, os machos e fêmeas primários em zonas de baixa profundidade têm o dorso castanho e o ventre branco ou prateado podendo ser ligeiramente amarelado, por vezes atravessado por uma lista média longitudinal castanha escura ao longo dos flancos. Quando o indivíduo habita em maiores profundidades, o castanho do dorso fica mais avermelhado e a lista média longitudinal fica mais alaranjada ou amarelada.
As fêmeas que se vão transformar em machos podem ser distinguidas pelo ocelo azul brilhante no opérculo e uma lista amarelada ou alaranjada que vai da cabeça até ao pedúnculo caudal.

Os machos secundários podem ter duas colorações distintas. No mar mediterrâneo têm o dorso castanho por vezes acinzentado, azulado ou verde claro com uma lista em ziguezague alaranjada ou avermelhada, delineada em azul esverdeado pálido, da cabeça ao pedúnculo caudal. O ventre é branco ou prateado, ligeiramente marcado com a cor do dorso e na parte anterior, uma banda azul escura ou negra em baixo. Por trás da barbatana peitoral, têm uma mancha e um ocelo negro no opérculo. Os três primeiros raios da barbatana dorsal têm uma mancha negra e outra vermelha, com a base esbranquiçada. Os exemplares mais velhos têm algumas listas verticais escuras. Nos exemplares do Atlântico, a barbatana e o pedúnculo caudal são mais escuros e a lista do ventre é mais descolorada, por vezes desaparecendo completamente, sendo só possível distingui-la na cabeça.

Vive em regiões litorais perto das rochas e em prados de algas, habitualmente até aos 60 m, podendo deslocar-se para águas mais profundas durante o inverno. É usual que os machos mais velhos permanecem em águas mais profundas. Preferem habitats rochosos, são por vezes solitários, mas também se agrupam frequentemente com indivíduos da mesma espécie [excepto os machos secundários que são territoriais]. À noite ou quando se assustam enterram-se na areia. Alimentam-se de pequenos gastrópodes, ouriços-do-mar, camarões, minhocas, isópodes e anfípodes.

Atingem a maturidade sexual ao fim de um ano de idade, são hermafroditas, verificando-se em algumas fêmeas mais velhas a reversão do sexo quando atingem 18 cm de comprimento [indivíduos maiores de 18 cm são todos do sexo masculino]. Geralmente têm entre 15 e 20 cm podendo atingir 25 cm.
Reproduzem-se de Maio a Agosto a noroeste da costa mediterrânea e na zona sul, de Abril a Agosto. Põem ovos pelágicos.

Encontram-se no Mediterrâneo, são comuns na bacia ocidental [excepto Golfo de Lion]. No Adriático [raros na parte norte], e bacia oriental. Parte sul do Mar Negro (raros). Costa oriental Atlântica da Noruega até ao sul do Cabo Lopez [raros a norte da Biscaia], Açores, Madeira e Canárias.

[1] Traduzido e adaptado de «Fishes of the NE Atlantic and the Mediterranean, Rainbow-wrass (Coris julis)», in Marine Species Identification Portal (online), disponível em http://species-identification.org/species.php?species_group=fnam&menuentry=soorten&id=1824&tab=beschrijving, consultado em 26.11.2010.

[2] FROESE, R. e PAULY, D. (ed.), »Glossário», in FishBase (online version 09/2010), disponível em http://www.fishbase.org/Glossary/Glossary.php?s=index&q=a, consultado em 12.12.2010.

Bibliografia consultada

TZANATOS, Evangelos (ed.), «Coris julis (Linnaeus, 1758)», in Encyclopedia of Life (online), disponível em http://www.eol.org/pages/212041, consultado em 08.12.2010.

MENENDÉZ VALDERRAY, Juan Luis, «Coris julis Bauchot & Quignard, 1973» in Astronatura.com, Naturaleza Cantábrica (online). Num 23, 7.3.05, ISSN: 1887-5068, disponível em http://www.asturnatura.com/especie/coris-julis.html, consultado em 12.12.2010.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Anemonia viridis (Forskål, 1775)

 

Anemona viridis

Anemonia viridis fotografada na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Anemonia viridis [Forskål, 1775]

Nome comum: Anémona-do-mar
Sinónimo: Anemonia sulcata [Pennant, 1777]

Descrição Geral [1]

Estas anémonas têm cerca de 200 longos tentáculos [normalmente de 100 a 120 mm podendo chegar aos 180 mm de comprimento], bastante robustos, flexíveis e embora possam ser totalmente recolhidos para dentro do corpo [já observado em aquário], não são habitualmente retrácteis. Estão cobertos de pequenas células chamadas cnidoblastos ou cnidócitos que contêm os nematocistos que são cápsulas urticantes que estas anémonas utilizam para defesa e alimentação. Por baixo dos tentáculos está o corpo [ou coluna] cilíndrico do pólipo propriamente dito que é composto por um pé adesivo que pode ter cerca de 70 mm, mais amplo do que a coluna que é geralmente curta mas normalmente mais alta do que larga, lisa e ligeiramente cónica.

Esta anémona vive em simbiose com um tipo de algas [zooxantela] localizadas nos tecidos dos tentáculos e que lhes confere a sua coloração verde-clara pela realização da fotossíntese. Estas algas são essenciais à sua sobrevivência a longo termo.

A coluna é geralmente avermelhada ou castanho-acinzentada, geralmente mais escura em cima, por vezes com estrias pálidas irregulares. O disco basal (ou pé) é castanho ou acinzentado, geralmente tem linhas brancas radiais. Os tentáculos são verde-claro ou cinza acastanhado com as pontas arroxeadas ou rosadas. Alguns tentáculos podem ter uma linha longitudinal mais clara, ou mais raramente, serem totalmente de cor bordeaux, principalmente os que estão mais afastados da boca. Ocasionalmente podem encontrar-se indivíduos mais claros, esbranquiçados ou amarelados devido à falta de realização da fotossíntese das zooxantela.

Para além de obterem substâncias nutritivas produzidas por essas algas, alimentam-se de crustáceos, pequenos peixes e camarões que capturam com os seus tentáculos urticantes também utilizados para levar o alimento para a boca com movimentos ondulantes. Como em quase todos os cnidários, as Anemonia viridis não têm ânus e como tal, os dejectos são regurgitados novamente pela boca. Apesar de serem maioritariamente sésseis, quando são sujeitas à privação de nutrientes, estas anémonas descolam o seu disco basal e avançam para novos locais em busca de mais alimento.

Durante a época de acasalamento, de Junho a Agosto, o esperma é liberado pelas gónadas [que ocupam cerca de 6 a 12% da massa da anémona] no fluxo de água e recebido pelos óvulos. As algas zooxantela são transportadas dentro do óvulo feminino para a próxima geração. A anémona-do-mar é ovípara, ou seja, os ovos são colocados fora do corpo da mãe. Este processo de reprodução sexual é menos comum que o processo de cisão longitudinal assexuada. A cisão longitudinal é uma divisão literal da anémona. Após a separação, cada uma das duas resultantes tem um anel simples e incompleto de tentáculos. As duas novas anémonas têm uma boca descentrada para iniciar o consumo de alimentos. Muitos dos tecidos internos são duplicados antes do processo de divisão real. A cisão longitudinal divide a anémona lateralmente, começando pelo disco basal. O processo de cisão total acontece de forma relativamente rápida, leva entre 5 minutos a 2 horas. [2]

Distribuem-se pela zona infralitoral da costa em locais bem iluminados, até cerca de 20 m de profundidade e principalmente em zonas de forte exposição à acção das ondas mas também em locais abrigados. Pode também ser encontrada nas poças, fixa em rochas, em folhas de zostera ou em algas diversas, É incapaz de suportar condições prolongadas de frio extremo.

Comum em todas as costas do sudoeste da Europa e Mediterrâneo é abundante na costa sul e oeste das Ilhas Britânicas, estendendo-se para norte, até metade da Escócia.

[1] Traduzido e adaptado de KLUIJVER, M.J. de  & INGALSUO, S.S., «Anemonia viridis (Snakelocks anemone)», in Macrobenthos of the North Sea – Anthozoa (online), disponível em http://nlbif.eti.uva.nl/bis/anthozoa.php?selected=beschrijving&menuentry=soorten&id=90, consultado em 5.12.2010.

[2] Traduzido e adaptado de «Anemonia viridis (Forskål, 1775)», in Encyclopedia of Life (online), disponível em http://www.eol.org/pages/421055, consultado em 5.12.2010.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sargo Veado [Diplodus Cervinus]

Diplodus cervnus

Sargo veado fotografado na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Diplodus cervinus [Lowe, 1841]

Nome comum: Sargo Veado

Descrição Geral [1]

Os sargos veados têm o a cabeça relativamente cónica e lábios grossos. Possuem dez a doze incisivos no maxilar superior e oito no maxilar inferior, uma a três [geralmente duas] séries de pequenos molares na parte de trás de cada maxila e não têm molares antes dos incisivos. Nas brânquias têm oito a dez rastros branquiais inferiores e sete a nove superiores. Têm ainda 51 a 62 escamas na linha lateral até ao pedúnculo caudal.

De cor cinza prateada ou dourada, distinguem-se dos outros sargos pelas cinco bandas transversais largas e escuras de cor achocolatada no dorso e por uma área escura que começa na bochecha e vai até ao espaço interorbital [espaço entre os olhos], passando pelo olho. A parte anterior do focinho também é mais escura e possui ainda uma pequena mancha na axila da barbatana peitoral. A barbatana pélvica também é mais escura e as restantes são acinzentadas, tornando-se mais escuras quanto mais distantes do corpo estiverem.

Pode atingir 55 cm mas tem em média 30 a 35 cm.

É gregário, formando grupos de 4 a 5 indivíduos, e omnívoro, alimentando-se de algas e pequenos invertebrados.

O seu habitat é infralitoral [2], de águas costeiras e fundos rochosos [no Atlântico, pode ser encontrado entre 30 a 80 m] e também em fundos lodosos no Mediterrâneo [dos 25 aos 300 m].

Distribui-se pelas zonas mais quentes do Mediterrâneo embora esteja ausente no Golfo de Lion, no Adriático e no Mar Negro. No Oceano Atlântico, encontra-se desde o Golfo da Biscaia até Cabo Verde, Madeira e Canárias.

A reprodução ocorre entre Janeiro e Abril. Nesta espécie os indivíduos são unissexuados [dioicia] e a fertilização é externa [a fêmea liberta os óvulos na água (desova), onde o macho também liberta os espermatozóides], espalham os ovos pelo substrato em águas abertas e não tomam conta deles.

[1] Traduzido e adaptado de «Fishes of the NE Atlantic and the Mediterranean, Zebra sea bream (Diplodus cervinus)», in Marine Species Identification Portal (online), disponível em  http://species-identification.org/species.php?species_group=fnam&id=1892, consultado em 26.11.2010.

[2] O andar infralitoral estende-se desde o limite inferior do andar mediolitoral (zona das marés) até à profundidade compatível com a existência das algas fotófilas [isto é, as que necessitam de luz] ou das angiospérmicas marinhas. Neste andar apenas uma pequena parte fica a descoberto na maré baixa e na costa portuguesa vai até aos 20-24m de profundidade. In SALDANHA, Luiz (1997), Fauna Submarina Atlântica, 3ª ed., Publicações Europa-América, p.19.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dondice banyulensis em plena reprodução

Dondice banyulensis

Dondice banyulensis, 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal

 

Dondice banyulensis [Portmann & Sandmeier, 1960]

 

Descrição Geral [1]

Este belo nudibrânquio pode ser facilmente identificado graças a duas características inconfundíveis: a cor, laranja brilhante translúcido, e o tamanho, que atinge um máximo de 60 a 70mm em animais adultos.

Bastante característicos neste aeolídeo, são também os tentáculos orais, de cor laranja com pontas brancas translúcidas e com o dobro do comprimento dos tentáculos dorsais [rhinophores]. Os tentáculos dorsais possuem anéis transversais também de cor laranja. O Dondice banyulensis tem duas linhas brancas, uma na parte superior do corpo, que vai desde os tentáculos orais até à cauda e outra que corre ao longo da fronteira do pé cujos cantos finais da parte anterior lembram tentáculos dobrados.

No dorso encontram-se cinco grupos de apêndices laranja brilhante com pontas vermelhas chamados cerata. Nestes nudibrânquios, o intestino médio extende-se para o interior destes apêndices onde são armazenadas células urticantes [cnidócitos] provenientes dos hidróides dos quais se julga que estes se alimentam.

De acordo com diversas fontes bibliográficas, os cerata podem ser erguidos quando o animal é perturbado, dando-lhe o perigoso aspecto de uma anémona urticante desencorajando o ataque de um possível predador. Se ainda assim for atacado, o agressor irá consumir os cnidócitos armazenados nos cerata. Estes são descartáveis e podem ser facilmente substituídos pelo nudibrânquio,  enquanto que o agressor irá sofrer com as células urticantes armazenadas [ainda activas], descobrindo amargamente que esta não é uma presa passível de ser consumida.

Dondice banyulensis

Existe uma forte discussão acerca dos hábitos alimentares deste animal. Alguns autores sugerem que este nudibrânquio alimenta-se de algas e anelídeos, enquanto outros afirmam que ele ataca hidróides Eudendrium sp. Este último tipo de alimentação parece provável, pois existem observações onde o Dondice banyulensis circunda o tronco de uma colónia de hidróides com o seu pé e aparentemente parece alimentar-se. Outros autores sugerem ainda que este nudibrânqueo, quando sujeito a privação de outros alimentos, alimenta-se de outros opistobrânquios como o Flabellina affinis ou Cratena peregrina [comprovado em ambiente controlado].

O Dondice banyulensis vive em fundos rochosos a profundidades que variam de 2 a 35 metros e ocasionalmente em águas rasas. O seu movimento é relativamente rápido e um mergulhador, se se aproximar de forma incauta, poderá perder a oportunidade de tirar uma boa foto pois o animal poderá adoptar a sua posição defensiva.

Esta não é uma espécie rara, mas também não é frequente. É considerada endémica do Mar Mediterrâneo mas também é comum na costa atlântica da Península Ibérica.

Estes nudibrânquios podem ser facilmente confundidos com os Coryphella lineata, que possuem coloração semelhante, mas são muito menores (até 30mm no máximo), os tentáculos orais têm o mesmo comprimento dos tentáculos dorsais, e estes órgãos bem como a parte final dos cerata terminam em pontas brancas, em vez de pontas vermelhas.

O Dondice banyulensis era anteriormente conhecido como Godiva banyulensis e como alguns autores ainda usam este nome, ainda hoje é mantido como sinónimo. De acordo com o índice etimológico Bemon [Biographical Etymology of Marine Organism Names], a origem do nome do género Dondice, assim como muitos dos nomes taxonómicos criados pelo zoólogo de Berlim Ernst Marcus, (1893-1968) e sua esposa Eveline du Bois (1901-1990), são difíceis de identificar. Parece que Dondice era o nome de uma empresa em São Paulo [Brasil], onde eles viveram no passado.

Reprodução e Desenvolvimento [2]

Dondice banyulensis

Dois nudibrânquios Dondice banyulensis a acasalar.
Foto tirada por mim em 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal.

Os nudibrânquios são hermafroditas simultâneos, o que significa que possuem tanto órgãos sexuais masculinos como femininos ao mesmo tempo. O órgão sexual está localizado no lado direito do animal assim, quando acasalam estão sempre na posição «cabeça-com-cauda». Esta estratégia aumenta a probabilidade de encontrar um parceiro, uma vez que cada indivíduo adulto da mesma espécie é um parceiro em potencial [a auto-fertilização é muito rara].

Após o acasalamento, os nudibrânquios colocam as suas posturas sobre ou perto do organismo do qual se alimentam. Estas massas de ovos variam em tamanho, forma e cor dependendo da espécie e o processo pode demorar muitas horas. A postura de algumas lesmas do mar tem a aparência de uma bobina de ovos, enquanto a de outras tem a forma de uma fita espessa tecida em espiral. Os ovos são geralmente brancos, mas também podem ser vermelhos, rosa, laranja ou outra cor, dependendo da espécie.

O desenvolvimento do ovo pode demorar entre 5 e 50 dias, e é fortemente influenciado pela temperatura. Águas mais quentes, geralmente resultam num curto período embrionário. Normalmente, os ovos desenvolvem-se primeiro numa forma larval denominada véliger, que deriva nas correntes oceânicas como o plâncton.

Condições ambientais específicas levam a que as larvas que se estabeleçam e se metamorfoseiem para a forma adulta. Esta dispersão larval é importante para uma dispersão bem sucedida para novas áreas, pois os nudibrânquios adultos movem-se muito lentamente e não podem viajar longas distâncias.

[1] Traduzido e adaptado de PONTES, Miquel e DACOSTA, Josep Mª, «Mediterranean Nudibranchs, Dondice banyulensis», in M@re Nostrum (onlne), disponível em http://marenostrum.org/vidamarina/animalia/invertebrados/moluscos/gasteropodos/opistobranquios/ gbanyulensis/dondice.pdf, consultado em 22.11.2010.

[2] Traduzido e adaptado de BEECK, Dray van e BEECK-SWANEPOEL, Karin van, «Nudibranchs», in Aqualife Images (online), disponível em  http://www.aqualifeimages.com/Default.aspx?ShowImage=1&QueryIs=2%20results%20for%20Dondice-banyulensis&sqlstr=SELECT%20*%20FROM%20IMAGES%20WHERE%20INACTIEF%20=%200%20AND%20Latijn%20=%20539%20ORDER%20BY%20NAAM, consultado em 22.11.2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

Uma estrelita em cada um de nós !


Terra ! Terra porquê ? [1]
250px-The_Earth_seen_from_Apollo_17 Esta designação só pode ter sido atribuída por uma comissão de meia dúzia de engravatados com fraco conhecimento dos verdadeiros factos deste nosso planeta.
Com toda a certeza, deveriam também padecer da enfermidade do fraco domínio das técnicas básicas das artes da natação.
Vejamos: vivemos num planeta onde «cerca de 71% da superfície da Terra está coberta por oceanos de água salgada, com o restante consistindo de continentes e ilhas [apenas 29%, e destes, «aproximadamente 20% da superfície continental da Terra são desérticos» [2]]. Água no estado líquido, necessária para a manutenção da vida como se conhece, não foi descoberta em nenhum outro corpo celeste no universo».
Então alguém nos consegue explicar como foi que se chegou a este nome e por que raio de razão lhe havemos de chamar Terra ?
E o símbolo astronómico e astrológico do planeta? Não é também francamente inapropriado, quase patético? Parece a mira técnica.
Parece que é baseado nos quatro elementos, Ar, Água, Fogo e Terra. Mas não há apenas um elemento, que tanto quanto sabemos é exclusivo deste nosso cantinho? Assim poderíamos propor, rapidamente, qualquer coisa com uma simbologia muito mais adequada.

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terra
actual
proposto
Então, afinal, como é que se deveria chamar o planeta, perguntaria o leitor menos atento.
Pois está claro como a água! O aeroporto de Lisboa não se deveria chamar aerolisboa? As omeletas não de deveriam chamar ovoletas?
Pois então chamar-lhe-iamos Águas, Aquáticus, Oceanus, Planeta H2O, Planeta Marinho, Plănēta Aqua. Tanto faz. Ou Simplesmente Mar.
Afinal foi inevitavelmente nos oceanos, que a vida, tal como a conhecemos, teve por fim a sua origem.
Honremos então estas nossas origens e se, tal como acreditamos verdadeiramente, existir uma estrela em cada um de nós, deveremos então assumir orgulhosamente este papel a que estamos destinados e brilhemos como incomparáveis estrelitas do mar.
Xana & Luís, 10-10-2010.

[1] Citação e imagens obtidas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Terra, em 10-10-2010.
[2] Citação de http://pt.wikipedia.org/wiki/Deserto, em 10-10-2010.