sábado, 27 de novembro de 2010

Sargo Veado [Diplodus Cervinus]

Diplodus cervnus

Sargo veado fotografado na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Diplodus cervinus [Lowe, 1841]

Nome comum: Sargo Veado

Descrição Geral [1]

Os sargos veados têm o a cabeça relativamente cónica e lábios grossos. Possuem dez a doze incisivos no maxilar superior e oito no maxilar inferior, uma a três [geralmente duas] séries de pequenos molares na parte de trás de cada maxila e não têm molares antes dos incisivos. Nas brânquias têm oito a dez rastros branquiais inferiores e sete a nove superiores. Têm ainda 51 a 62 escamas na linha lateral até ao pedúnculo caudal.

De cor cinza prateada ou dourada, distinguem-se dos outros sargos pelas cinco bandas transversais largas e escuras de cor achocolatada no dorso e por uma área escura que começa na bochecha e vai até ao espaço interorbital [espaço entre os olhos], passando pelo olho. A parte anterior do focinho também é mais escura e possui ainda uma pequena mancha na axila da barbatana peitoral. A barbatana pélvica também é mais escura e as restantes são acinzentadas, tornando-se mais escuras quanto mais distantes do corpo estiverem.

Pode atingir 55 cm mas tem em média 30 a 35 cm.

É gregário, formando grupos de 4 a 5 indivíduos, e omnívoro, alimentando-se de algas e pequenos invertebrados.

O seu habitat é infralitoral [2], de águas costeiras e fundos rochosos [no Atlântico, pode ser encontrado entre 30 a 80 m] e também em fundos lodosos no Mediterrâneo [dos 25 aos 300 m].

Distribui-se pelas zonas mais quentes do Mediterrâneo embora esteja ausente no Golfo de Lion, no Adriático e no Mar Negro. No Oceano Atlântico, encontra-se desde o Golfo da Biscaia até Cabo Verde, Madeira e Canárias.

A reprodução ocorre entre Janeiro e Abril. Nesta espécie os indivíduos são unissexuados [dioicia] e a fertilização é externa [a fêmea liberta os óvulos na água (desova), onde o macho também liberta os espermatozóides], espalham os ovos pelo substrato em águas abertas e não tomam conta deles.

[1] Traduzido e adaptado de «Fishes of the NE Atlantic and the Mediterranean, Zebra sea bream (Diplodus cervinus)», in Marine Species Identification Portal (online), disponível em  http://species-identification.org/species.php?species_group=fnam&id=1892, consultado em 26.11.2010.

[2] O andar infralitoral estende-se desde o limite inferior do andar mediolitoral (zona das marés) até à profundidade compatível com a existência das algas fotófilas [isto é, as que necessitam de luz] ou das angiospérmicas marinhas. Neste andar apenas uma pequena parte fica a descoberto na maré baixa e na costa portuguesa vai até aos 20-24m de profundidade. In SALDANHA, Luiz (1997), Fauna Submarina Atlântica, 3ª ed., Publicações Europa-América, p.19.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dondice banyulensis em plena reprodução

Dondice banyulensis

Dondice banyulensis, 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal

 

Dondice banyulensis [Portmann & Sandmeier, 1960]

 

Descrição Geral [1]

Este belo nudibrânquio pode ser facilmente identificado graças a duas características inconfundíveis: a cor, laranja brilhante translúcido, e o tamanho, que atinge um máximo de 60 a 70mm em animais adultos.

Bastante característicos neste aeolídeo, são também os tentáculos orais, de cor laranja com pontas brancas translúcidas e com o dobro do comprimento dos tentáculos dorsais [rhinophores]. Os tentáculos dorsais possuem anéis transversais também de cor laranja. O Dondice banyulensis tem duas linhas brancas, uma na parte superior do corpo, que vai desde os tentáculos orais até à cauda e outra que corre ao longo da fronteira do pé cujos cantos finais da parte anterior lembram tentáculos dobrados.

No dorso encontram-se cinco grupos de apêndices laranja brilhante com pontas vermelhas chamados cerata. Nestes nudibrânquios, o intestino médio extende-se para o interior destes apêndices onde são armazenadas células urticantes [cnidócitos] provenientes dos hidróides dos quais se julga que estes se alimentam.

De acordo com diversas fontes bibliográficas, os cerata podem ser erguidos quando o animal é perturbado, dando-lhe o perigoso aspecto de uma anémona urticante desencorajando o ataque de um possível predador. Se ainda assim for atacado, o agressor irá consumir os cnidócitos armazenados nos cerata. Estes são descartáveis e podem ser facilmente substituídos pelo nudibrânquio,  enquanto que o agressor irá sofrer com as células urticantes armazenadas [ainda activas], descobrindo amargamente que esta não é uma presa passível de ser consumida.

Dondice banyulensis

Existe uma forte discussão acerca dos hábitos alimentares deste animal. Alguns autores sugerem que este nudibrânquio alimenta-se de algas e anelídeos, enquanto outros afirmam que ele ataca hidróides Eudendrium sp. Este último tipo de alimentação parece provável, pois existem observações onde o Dondice banyulensis circunda o tronco de uma colónia de hidróides com o seu pé e aparentemente parece alimentar-se. Outros autores sugerem ainda que este nudibrânqueo, quando sujeito a privação de outros alimentos, alimenta-se de outros opistobrânquios como o Flabellina affinis ou Cratena peregrina [comprovado em ambiente controlado].

O Dondice banyulensis vive em fundos rochosos a profundidades que variam de 2 a 35 metros e ocasionalmente em águas rasas. O seu movimento é relativamente rápido e um mergulhador, se se aproximar de forma incauta, poderá perder a oportunidade de tirar uma boa foto pois o animal poderá adoptar a sua posição defensiva.

Esta não é uma espécie rara, mas também não é frequente. É considerada endémica do Mar Mediterrâneo mas também é comum na costa atlântica da Península Ibérica.

Estes nudibrânquios podem ser facilmente confundidos com os Coryphella lineata, que possuem coloração semelhante, mas são muito menores (até 30mm no máximo), os tentáculos orais têm o mesmo comprimento dos tentáculos dorsais, e estes órgãos bem como a parte final dos cerata terminam em pontas brancas, em vez de pontas vermelhas.

O Dondice banyulensis era anteriormente conhecido como Godiva banyulensis e como alguns autores ainda usam este nome, ainda hoje é mantido como sinónimo. De acordo com o índice etimológico Bemon [Biographical Etymology of Marine Organism Names], a origem do nome do género Dondice, assim como muitos dos nomes taxonómicos criados pelo zoólogo de Berlim Ernst Marcus, (1893-1968) e sua esposa Eveline du Bois (1901-1990), são difíceis de identificar. Parece que Dondice era o nome de uma empresa em São Paulo [Brasil], onde eles viveram no passado.

Reprodução e Desenvolvimento [2]

Dondice banyulensis

Dois nudibrânquios Dondice banyulensis a acasalar.
Foto tirada por mim em 01.11.2010, no Jardim de Coral em Albarquel, Setúbal.

Os nudibrânquios são hermafroditas simultâneos, o que significa que possuem tanto órgãos sexuais masculinos como femininos ao mesmo tempo. O órgão sexual está localizado no lado direito do animal assim, quando acasalam estão sempre na posição «cabeça-com-cauda». Esta estratégia aumenta a probabilidade de encontrar um parceiro, uma vez que cada indivíduo adulto da mesma espécie é um parceiro em potencial [a auto-fertilização é muito rara].

Após o acasalamento, os nudibrânquios colocam as suas posturas sobre ou perto do organismo do qual se alimentam. Estas massas de ovos variam em tamanho, forma e cor dependendo da espécie e o processo pode demorar muitas horas. A postura de algumas lesmas do mar tem a aparência de uma bobina de ovos, enquanto a de outras tem a forma de uma fita espessa tecida em espiral. Os ovos são geralmente brancos, mas também podem ser vermelhos, rosa, laranja ou outra cor, dependendo da espécie.

O desenvolvimento do ovo pode demorar entre 5 e 50 dias, e é fortemente influenciado pela temperatura. Águas mais quentes, geralmente resultam num curto período embrionário. Normalmente, os ovos desenvolvem-se primeiro numa forma larval denominada véliger, que deriva nas correntes oceânicas como o plâncton.

Condições ambientais específicas levam a que as larvas que se estabeleçam e se metamorfoseiem para a forma adulta. Esta dispersão larval é importante para uma dispersão bem sucedida para novas áreas, pois os nudibrânquios adultos movem-se muito lentamente e não podem viajar longas distâncias.

[1] Traduzido e adaptado de PONTES, Miquel e DACOSTA, Josep Mª, «Mediterranean Nudibranchs, Dondice banyulensis», in M@re Nostrum (onlne), disponível em http://marenostrum.org/vidamarina/animalia/invertebrados/moluscos/gasteropodos/opistobranquios/ gbanyulensis/dondice.pdf, consultado em 22.11.2010.

[2] Traduzido e adaptado de BEECK, Dray van e BEECK-SWANEPOEL, Karin van, «Nudibranchs», in Aqualife Images (online), disponível em  http://www.aqualifeimages.com/Default.aspx?ShowImage=1&QueryIs=2%20results%20for%20Dondice-banyulensis&sqlstr=SELECT%20*%20FROM%20IMAGES%20WHERE%20INACTIEF%20=%200%20AND%20Latijn%20=%20539%20ORDER%20BY%20NAAM, consultado em 22.11.2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

Uma estrelita em cada um de nós !


Terra ! Terra porquê ? [1]
250px-The_Earth_seen_from_Apollo_17 Esta designação só pode ter sido atribuída por uma comissão de meia dúzia de engravatados com fraco conhecimento dos verdadeiros factos deste nosso planeta.
Com toda a certeza, deveriam também padecer da enfermidade do fraco domínio das técnicas básicas das artes da natação.
Vejamos: vivemos num planeta onde «cerca de 71% da superfície da Terra está coberta por oceanos de água salgada, com o restante consistindo de continentes e ilhas [apenas 29%, e destes, «aproximadamente 20% da superfície continental da Terra são desérticos» [2]]. Água no estado líquido, necessária para a manutenção da vida como se conhece, não foi descoberta em nenhum outro corpo celeste no universo».
Então alguém nos consegue explicar como foi que se chegou a este nome e por que raio de razão lhe havemos de chamar Terra ?
E o símbolo astronómico e astrológico do planeta? Não é também francamente inapropriado, quase patético? Parece a mira técnica.
Parece que é baseado nos quatro elementos, Ar, Água, Fogo e Terra. Mas não há apenas um elemento, que tanto quanto sabemos é exclusivo deste nosso cantinho? Assim poderíamos propor, rapidamente, qualquer coisa com uma simbologia muito mais adequada.

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terra
actual
proposto
Então, afinal, como é que se deveria chamar o planeta, perguntaria o leitor menos atento.
Pois está claro como a água! O aeroporto de Lisboa não se deveria chamar aerolisboa? As omeletas não de deveriam chamar ovoletas?
Pois então chamar-lhe-iamos Águas, Aquáticus, Oceanus, Planeta H2O, Planeta Marinho, Plănēta Aqua. Tanto faz. Ou Simplesmente Mar.
Afinal foi inevitavelmente nos oceanos, que a vida, tal como a conhecemos, teve por fim a sua origem.
Honremos então estas nossas origens e se, tal como acreditamos verdadeiramente, existir uma estrela em cada um de nós, deveremos então assumir orgulhosamente este papel a que estamos destinados e brilhemos como incomparáveis estrelitas do mar.
Xana & Luís, 10-10-2010.

[1] Citação e imagens obtidas em http://pt.wikipedia.org/wiki/Terra, em 10-10-2010.
[2] Citação de http://pt.wikipedia.org/wiki/Deserto, em 10-10-2010.