domingo, 12 de dezembro de 2010

Coris julis, a judia mais complicada do que parece

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Coris julis fotografada na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Coris julis [Linnaeus, 1758]

Nome comum: Judia, peixe-rei.

Descrição Geral [1]

Corpo esguio alongado, ligeiramente achatado lateralmente e cabeça pequena, mas maior do que a altura do corpo. O focinho é pontiagudo, e a largura preorbital [entre os olhos] é inferior à pós-orbital [dos olhos ao opérculo]. A boca é pequena e tem duas fileiras de dentes afiados [primeira com 9 a 14 e a segunda com 10 a 15], sendo os da frente maiores, mais proeminentes e curvos.
Ausência de escamas na cabeça e na base das barbatanas dorsal e anal. Tem 73 a 80 escamas pequenas ao longo da linha lateral e quatro ou cinco fileiras de escamas acima desta. O focinho tem 4 a 6 poros cefálicos [pequenas aberturas sensoriais ou secretórias na cabeça [2]]. Têm 25 a 26 vértebras. Possuem oito a dez espinhos e onze a doze raios [lepidotríquias] na barbatana dorsal e três espinhos mais onze a doze raios na barbatana anal. Os arcos branquiais [arcos ósseos ou cartilaginosos que dão suporte às brânquias[2]] são finos e em número de 14 a 17.

Esta espécie tem dimorfismo sexual [caracterizado pelos três primeiros raios dorsais nos machos secundários do mediterrâneo serem mais alongados] e são hermafroditas [mudam de sexo] sequenciais [inversão sexual] protogínicos [as fêmeas transformam-se em machos] diândricos [têm machos primários]. Têm também dicromatismo sexual, ou seja, machos e fêmeas possuem coloração diferente, mas no caso desta espécie, também são visíveis diferenças cromáticas entre machos primários e secundários.
Assim, os machos e fêmeas primários em zonas de baixa profundidade têm o dorso castanho e o ventre branco ou prateado podendo ser ligeiramente amarelado, por vezes atravessado por uma lista média longitudinal castanha escura ao longo dos flancos. Quando o indivíduo habita em maiores profundidades, o castanho do dorso fica mais avermelhado e a lista média longitudinal fica mais alaranjada ou amarelada.
As fêmeas que se vão transformar em machos podem ser distinguidas pelo ocelo azul brilhante no opérculo e uma lista amarelada ou alaranjada que vai da cabeça até ao pedúnculo caudal.

Os machos secundários podem ter duas colorações distintas. No mar mediterrâneo têm o dorso castanho por vezes acinzentado, azulado ou verde claro com uma lista em ziguezague alaranjada ou avermelhada, delineada em azul esverdeado pálido, da cabeça ao pedúnculo caudal. O ventre é branco ou prateado, ligeiramente marcado com a cor do dorso e na parte anterior, uma banda azul escura ou negra em baixo. Por trás da barbatana peitoral, têm uma mancha e um ocelo negro no opérculo. Os três primeiros raios da barbatana dorsal têm uma mancha negra e outra vermelha, com a base esbranquiçada. Os exemplares mais velhos têm algumas listas verticais escuras. Nos exemplares do Atlântico, a barbatana e o pedúnculo caudal são mais escuros e a lista do ventre é mais descolorada, por vezes desaparecendo completamente, sendo só possível distingui-la na cabeça.

Vive em regiões litorais perto das rochas e em prados de algas, habitualmente até aos 60 m, podendo deslocar-se para águas mais profundas durante o inverno. É usual que os machos mais velhos permanecem em águas mais profundas. Preferem habitats rochosos, são por vezes solitários, mas também se agrupam frequentemente com indivíduos da mesma espécie [excepto os machos secundários que são territoriais]. À noite ou quando se assustam enterram-se na areia. Alimentam-se de pequenos gastrópodes, ouriços-do-mar, camarões, minhocas, isópodes e anfípodes.

Atingem a maturidade sexual ao fim de um ano de idade, são hermafroditas, verificando-se em algumas fêmeas mais velhas a reversão do sexo quando atingem 18 cm de comprimento [indivíduos maiores de 18 cm são todos do sexo masculino]. Geralmente têm entre 15 e 20 cm podendo atingir 25 cm.
Reproduzem-se de Maio a Agosto a noroeste da costa mediterrânea e na zona sul, de Abril a Agosto. Põem ovos pelágicos.

Encontram-se no Mediterrâneo, são comuns na bacia ocidental [excepto Golfo de Lion]. No Adriático [raros na parte norte], e bacia oriental. Parte sul do Mar Negro (raros). Costa oriental Atlântica da Noruega até ao sul do Cabo Lopez [raros a norte da Biscaia], Açores, Madeira e Canárias.

[1] Traduzido e adaptado de «Fishes of the NE Atlantic and the Mediterranean, Rainbow-wrass (Coris julis)», in Marine Species Identification Portal (online), disponível em http://species-identification.org/species.php?species_group=fnam&menuentry=soorten&id=1824&tab=beschrijving, consultado em 26.11.2010.

[2] FROESE, R. e PAULY, D. (ed.), »Glossário», in FishBase (online version 09/2010), disponível em http://www.fishbase.org/Glossary/Glossary.php?s=index&q=a, consultado em 12.12.2010.

Bibliografia consultada

TZANATOS, Evangelos (ed.), «Coris julis (Linnaeus, 1758)», in Encyclopedia of Life (online), disponível em http://www.eol.org/pages/212041, consultado em 08.12.2010.

MENENDÉZ VALDERRAY, Juan Luis, «Coris julis Bauchot & Quignard, 1973» in Astronatura.com, Naturaleza Cantábrica (online). Num 23, 7.3.05, ISSN: 1887-5068, disponível em http://www.asturnatura.com/especie/coris-julis.html, consultado em 12.12.2010.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Anemonia viridis (Forskål, 1775)

 

Anemona viridis

Anemonia viridis fotografada na Pedra do Leão, Sesimbra em 19.09.2010.

Anemonia viridis [Forskål, 1775]

Nome comum: Anémona-do-mar
Sinónimo: Anemonia sulcata [Pennant, 1777]

Descrição Geral [1]

Estas anémonas têm cerca de 200 longos tentáculos [normalmente de 100 a 120 mm podendo chegar aos 180 mm de comprimento], bastante robustos, flexíveis e embora possam ser totalmente recolhidos para dentro do corpo [já observado em aquário], não são habitualmente retrácteis. Estão cobertos de pequenas células chamadas cnidoblastos ou cnidócitos que contêm os nematocistos que são cápsulas urticantes que estas anémonas utilizam para defesa e alimentação. Por baixo dos tentáculos está o corpo [ou coluna] cilíndrico do pólipo propriamente dito que é composto por um pé adesivo que pode ter cerca de 70 mm, mais amplo do que a coluna que é geralmente curta mas normalmente mais alta do que larga, lisa e ligeiramente cónica.

Esta anémona vive em simbiose com um tipo de algas [zooxantela] localizadas nos tecidos dos tentáculos e que lhes confere a sua coloração verde-clara pela realização da fotossíntese. Estas algas são essenciais à sua sobrevivência a longo termo.

A coluna é geralmente avermelhada ou castanho-acinzentada, geralmente mais escura em cima, por vezes com estrias pálidas irregulares. O disco basal (ou pé) é castanho ou acinzentado, geralmente tem linhas brancas radiais. Os tentáculos são verde-claro ou cinza acastanhado com as pontas arroxeadas ou rosadas. Alguns tentáculos podem ter uma linha longitudinal mais clara, ou mais raramente, serem totalmente de cor bordeaux, principalmente os que estão mais afastados da boca. Ocasionalmente podem encontrar-se indivíduos mais claros, esbranquiçados ou amarelados devido à falta de realização da fotossíntese das zooxantela.

Para além de obterem substâncias nutritivas produzidas por essas algas, alimentam-se de crustáceos, pequenos peixes e camarões que capturam com os seus tentáculos urticantes também utilizados para levar o alimento para a boca com movimentos ondulantes. Como em quase todos os cnidários, as Anemonia viridis não têm ânus e como tal, os dejectos são regurgitados novamente pela boca. Apesar de serem maioritariamente sésseis, quando são sujeitas à privação de nutrientes, estas anémonas descolam o seu disco basal e avançam para novos locais em busca de mais alimento.

Durante a época de acasalamento, de Junho a Agosto, o esperma é liberado pelas gónadas [que ocupam cerca de 6 a 12% da massa da anémona] no fluxo de água e recebido pelos óvulos. As algas zooxantela são transportadas dentro do óvulo feminino para a próxima geração. A anémona-do-mar é ovípara, ou seja, os ovos são colocados fora do corpo da mãe. Este processo de reprodução sexual é menos comum que o processo de cisão longitudinal assexuada. A cisão longitudinal é uma divisão literal da anémona. Após a separação, cada uma das duas resultantes tem um anel simples e incompleto de tentáculos. As duas novas anémonas têm uma boca descentrada para iniciar o consumo de alimentos. Muitos dos tecidos internos são duplicados antes do processo de divisão real. A cisão longitudinal divide a anémona lateralmente, começando pelo disco basal. O processo de cisão total acontece de forma relativamente rápida, leva entre 5 minutos a 2 horas. [2]

Distribuem-se pela zona infralitoral da costa em locais bem iluminados, até cerca de 20 m de profundidade e principalmente em zonas de forte exposição à acção das ondas mas também em locais abrigados. Pode também ser encontrada nas poças, fixa em rochas, em folhas de zostera ou em algas diversas, É incapaz de suportar condições prolongadas de frio extremo.

Comum em todas as costas do sudoeste da Europa e Mediterrâneo é abundante na costa sul e oeste das Ilhas Britânicas, estendendo-se para norte, até metade da Escócia.

[1] Traduzido e adaptado de KLUIJVER, M.J. de  & INGALSUO, S.S., «Anemonia viridis (Snakelocks anemone)», in Macrobenthos of the North Sea – Anthozoa (online), disponível em http://nlbif.eti.uva.nl/bis/anthozoa.php?selected=beschrijving&menuentry=soorten&id=90, consultado em 5.12.2010.

[2] Traduzido e adaptado de «Anemonia viridis (Forskål, 1775)», in Encyclopedia of Life (online), disponível em http://www.eol.org/pages/421055, consultado em 5.12.2010.